Qual o preço de se manter honesto em uma sociedade que cada vez mais premia os atalhos, os escândalos e os discursos vazios? Essa é a provocação que dá partida ao espetáculo inédito BET BALANÇO, com texto e direção de Giovani Tozi, que estreia em São Paulo no dia 2 de agosto, no Teatro Itália, em temporada aos sábados às 23h. Na trama, Érico Brás interpreta Jurandir, um homem íntegro, mas sufocado pelas contradições de um país onde o sucesso parece estar sempre ligado à esperteza, e não ao mérito. O ponto de partida dramatúrgico é o conto A Teoria do Medalhão, de Machado de Assis, que Tozi atualiza para o contexto de 2025. “Desde que li esse texto no colégio, fiquei impressionado com o humor do Machado, e aquilo me despertou pra obra dele. Sempre quis levar esse conto ao palco, mas foi só agora, que a vontade encontrou o momento certo”, conta Tozi.
No conto, Machado apresenta a figura do “medalhão”, um sujeito que conquista notoriedade sem ter feito nada de relevante. Ele é respeitado, ouvido, homenageado, apenas porque representa uma imagem de virtude. “Hoje, o medalhão de Machado é o influencer que aparece em campanhas, acumula seguidores e vira referência, muitas vezes sem ter dito absolutamente nada com substância. E é sobre isso que BET BALANÇO fala, fama sem mérito, dinheiro sem trabalho, e um país onde o maior talento parece ser o de parecer importante.”
Mais de uma década após trabalharem juntos no Rio de Janeiro, o reencontro entre Érico Brás e Giovani Tozi marca o nascimento de um espetáculo que une humor ácido, crítica social e música ao vivo. Durante esse tempo, Tozi chegou a procurar Érico para integrar o elenco de uma comédia americana, projeto que ainda não saiu. Mas foi o convite de Érico, esse ano, que deu origem à parceria atual. “Fiquei muito feliz com o contato do Érico porque admiro muito a história dele, como ser humano e artista. Pra além de um ator cheio de recursos, é um cara que tem uma energia muito boa, e isso faz toda a diferença num processo criativo”, afirma Tozi. “Quando ele me procurou pra esse trabalho e me contou sobre os temas que interessavam a ele, eu pedi uma semana e revirei minha ‘gaveta das vontades’. São projetos ou fragmentos que ainda quero realizar. E lá estava esse: a atualização do conto Teoria do Medalhão, do Machado de Assis.”
A proposta foi justamente essa: falar sobre o poder do dinheiro, como ele molda comportamentos, impõe silêncios e transforma a ideia de sucesso. No conto, um pai aconselha o filho a se tornar um medalhão, alguém admirado e respeitável sem precisar se comprometer com ideias próprias. No mundo de hoje, esse medalhão é o influencer. E é nesse salto que o espetáculo mergulha. BET BALANÇO traz Érico Brás em um solo tragicômico, musicado, que mistura elementos de stand-up comedy, teatro político e show musical. Em cena, uma banda ao vivo acompanha o ator, que canta clássicos da música brasileira sobre dinheiro, poder e vaidade. Canções populares de artistas como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Ivete Sangalo e Cartola ajudam a costurar as passagens mais intensas do espetáculo.
Além do humor e da música, o texto toca em feridas muito atuais, como o racismo estrutural — especialmente no universo da publicidade — e o escândalo das casas de apostas online, que aliciam artistas e influenciadores para promover um sistema onde, quase sempre, o pobre é quem perde. BET BALANÇO propõe uma reflexão urgente: em um tempo em que a influência vale mais do que o conteúdo, e o sucesso pode ser medido em curtidas, o que ainda tem valor?
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